Nas ondas do rádio em Petrolândia

Breve histórico sobre a estreia de emissora de rádio em Petrolândia., ilustrado em foto gentilmente cedida por Osmar Salles de Oliveira.

A radiodifusão chegou ao Brasil em 1922 e tinha como objetivo inicial divulgar eventos educativos e culturais. Popularizou-se na década de 40,“época de ouro do rádio”, a partir da radionovela e de uma programação recheada de música com programas ao vivo. No radiojornalismo surgiu o Repórter Esso, com notícias do Brasil e do mundo,  patrocinado pela companhia norte americana de combustíveis, que lhe emprestou o nome.

Com nome oficial de Rádio Educadora, no início dos anos 60, Petrolândia ganha sua primeira rádio. Instalada no antigo prédio das Escolas Reunidas 10 de Novembro, ficou popularmente conhecida como “Rádio de Montenegro”.

Antônio Montenegro, natural do Recife, veio a Petrolândia de passagem, em comitiva de políticos pernambucanos na campanha eleitoral de João Goulart. Acabou se encantando com uma moça da cidade, que mais tarde viria a ser sua esposa, o que o fez mudar-se de vez  da capital para o interior. De família tradicional e cheio de  amigos influentes na capital,  Montenegro conseguiu concessão e instalou a rádio onde ele e sua esposa, Maria Emília, atuavam conjuntamente na condução da  programação.

Mantida apenas com a receita proveniente de anúncios pagos pelo minguado comércio local, oferecimento de músicas encomendadas por moças e rapazes apaixonados e um programa dominical de auditório no Grêmio Lítero Recreativo, a rádio não conseguiu se manter em atividade por muito tempo. Em menos de um ano saiu do ar. Apesar disso, marcou época e serviu de estímulo a outras tantas experiências radiofônicas da cidade.

A Rádio Progresso é um exemplo disso. Montada , por volta de 1967,  pelo tabelião Silvio Rodrigues, cujo cartório funcionava no mesmo prédio da antiga Radio Educadora,  a rádio  surgiu  a partir de um transistor de fabricação caseira construído pelo inventivo mecânico Doda. De curto alcance, o sinal cobria apenas a área urbana.  A rádio funcionava no centro da cidade,  num beco por trás da venda do Sr. Pedro Soares,  numa sala minúscula onde mal cabiam duas pessoas.

Tinha como encarregado  o estudante Gilberto Alcântara (Betão), responsável pela programação que fazia chegar em Petrolândia os sucessos da Jovem Guarda, numa época em que a cidade ainda nem sonhava com sinal de TV. Como voluntários, revessavam-se ao microfone os amigos Marcos de Toinha Bozó (conhecido como o Tremendão, pois usava figurino inspirado em Erasmo Carlos), Renato de João de Boa, Claudio Costa e outros jovens estudantes que se divertiam levando ao ar programas de música popular, reclames, oferecimento de música e brincadeiras do tipo “Qual é a música?”.

Era um maravilhoso entretenimento para a povo de Petrolândia nos monótonos dias sem novidades,  tão comum nas pequenas cidades interioranas.

Pesquisa : Paula Rubens

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Ginásio Municipal de Petrolândia

Relatos sobre o Ginásio Municipal de Petrolândia extraídos do livro “De Jatobá a Petrolânida – Três nomes, uma cidade, um povo” de Gilberto de Menezes.

Relatos de Gilberto de Menezes

Do livro De Jatobá a Petrolândia: três nomes, uma cidade, um povo (2014) de Gilberto de Menezes, às páginas 143 , 145 e 151, extraímos o seguinte relato acerca do Ginásio Municipal de Petrolândia.

O prefeito Amaro José da Silva resolveu dotar o município de um curso ginasial onde os que haviam concluído o curso primário pudessem continuar os estudos, deparando-se de imediato com três problemas: falta de prédio capaz de abrigar o curso atendendo às exigências do MEC foi o primeiro; e, segundo lugar a falta de recursos da Prefeitura para assumir ps gastos e em último lugar a falta de professores habilitados. Mas nada é impossível quando há boa vontade. Logo surgiram as soluções:

a) enquanto não fosse possível a construção de um prédio próprio seriam ocupadas as salas inativas do Grupo Escolar Delmiro Gouveia, que ele mesmo havia inaugurado, nos turnos vespertino e noturno;

b) os alunos pagariam uma mensalidade, devendo a Prefeitura conceder bolsas de estudo aos alunos que não tivessem condições de fazê-los;

c) seriam contratadas as professoras do Grupo Escolar Delmiro Gouveia para as matérias em que se julgassem habilitadas. Para as matérias restantes seriam convidados profissionais liberais, funcionários públicos etc. que fossem capazes de ministrá-las.

Para dirigir o recém-criado estabelecimento o prefeito convidou o Padre Pedro Gabriel de Vasconcelos, Pároco da Paróquia de Nossa Senhora da Saúde, que aceitou o cargo mas chamou a atenção para sua inexperiência em organização e administração de estabelecimentos escolares. Tudo, porém foi resolvido com a atuação decidida do Dr. JOSÉ MEDEIROS DE SOUZA, administrador do Núcleo da Barreira que aceitou o cargo de Inspetor de Ensino e pôs à disposição do ginásio Maria Otília Netta Costa, então Orientadora Educacional da Comissão do Vale do São Francisco que cursava Filosofia na Universidade Federal de Pernambuco.”

Em 1964,  José Araújo da Silva toma posse como prefeito e dá continuidade à construção do prédio do ginásio, ampliando suas instalações. Criou o Colégio Comercial São Francisco e o Colégio Normal Municipal de Petrolândia que passam a funcionar no mesmo prédio, depois de terem utilizado as instalações do antigo escritório do DNOCS  (Curso de Contabilidade) por breve período.

Em 1977, assume a prefeitura José Dantas de Lima e implanta  a gratuidade do ensino municipal. Em 03/06/1982, ainda em sua gestão, pela portaria 42/56, transfere ao Estado o Ginásio e os demais Colégios  com o nome de Escola de Jatobá – Ensino de 1º e 2º Graus.

Registro de fundação

Seguem abaixo fotografias do registro de fundação do ginásio:

Pesquisa: Paula Rubens

Disputa entre índios e posseiros nas terras de Jatobá

A reparação de uma grande injustiça: artigo escrito por Hildebrando Gomes de Menezes, publicado no Jornal do Comercio de 14/03/1951.

Resgatamos artigo de Hildebrando Gomes de Menezes, publicado no Jornal do Commercio em 14/03/1951, a fim de levar a seu público o conhecimento acerca do debate travado à época sobre as tratativas do enfrentamento entre índios e posseiros nas terras de Jatobá.

Pesquisa: Paula Rubens

Violência e morte: a hecatombe de Jatobá

A chacina resultante dos conflitos políticos na Tacaratu de 1885, é um retrato da acirrada disputa eleitoral vivida em Pernambuco no final do século IX.

No Brasil Império, o Partido Conservador manteve-se no poder na Província de Pernambuco de 1885 a abril de 1888, desbancando o Partido Liberal. 

Em outubro de 1885 , assumiu o governo de  Pernambuco o conservador  José Fernandes da Costa Júnior,  que tinha em Jatobá o Cel. Francisco Cavalcante como agente eleitoral.  O novo governador destitui o delegado que atuava em Tacaratu há três anos e nomeia para o cargo um sobrinho de Cavalcante.   

O novo delegado, temido na cidade pelo cometimento de inúmeros crimes, esteve foragido e retornava com sede de vingança, segundo texto abaixo extraído do Jornal do Comércio em sua edição 63 de 04/03/1886 (reproduzindo matéria do jornal Província de 20/02/1886):

“ (…) Quando Cavalcante com numeroso séquito armado fez a sua “entrada triunfal” na Vila, esta já estava em grande parte despovoada: nas poucas casas habitadas houve um… Fecha! Fecha!..de terror!”

“E começou então, quase sem interrupção de um dia, uma série de violências e atentados de toda a ordem, nas ruas, nas feiras, em pleno dia e sob as vistas das próprias autoridades judiciárias, impassíveis, sob pena de serem elas mesmas igualmente vítimas”.

Jornal do Comércio-RJ, número 63 de 04/03/1886

Consta que famílias inteiras abandonaram a vila e que um júri foi convocado poucos dias depois em 15/10/1885. O novo delegado e seus comparsas saíram todos incólumes de três processos julgados no mesmo dia naquele tribunal do juri, sendo ablsolvidos um total de 22 pessoas (Jornal do Commercio RJ de 28.04.1886). Segundo o jornal, tais fatos corroboravam para a acusação de que o Governador da Província não dava ouvidos às queixas que lhe chegavam, numa clara preparação de terreno para as eleições que se sucederiam em nível local.

De fato, tudo parece concorrer para essa conclusão, já que na véspera da eleição de 15 de janeiro, consta que Cavalcante e sua turma proporcionaram uma verdadeira noite de terror ao povo de Tacaratu, sitiando a cidade, invadindo residências e roubando títulos de eleitor.

“ Um grupo desses sequazes de Cavalcante assaltaram alta noite as casas habitadas por liberais, arrombando portas, batendo noutras, em algazarra , insultos e provocações insólitas; a própria casa de juiz de direito onde estava hospedado o candidato liberal , não foi poupada, e aí só o arrombamento da porta deixou de ser praticado”.      

O Jornal do Recife de 23/01/1886  reproduz o seguinte excerto de publicação de 22/01/1986 do Jornal A Província (vinculado ao Partido Liberal):

“ A comarca de Tacaratu está fora da lei. São inúmeros os espancamentos e outras violências que nela se tem dado  e estão impunes. No dia da eleição geral postou-se gente armada nas estradas, para impedir que votassem os eleitores liberais”.  

Ainda na referida edição citada no Jornal do Commercio-RJ em seu número 63 de 04/03/1886, temos que:  

“ Acaba de ser barbaramente espancado  em plena rua de Jatobá, o Capitão Ignácio Gomes de Carvalho, suplente do juiz municipal e membro da mesa eleitoral no dia 15 de janeiro, pertence ao partido liberal e é geralmente estimado”. 

A motivação para esse espancamento, segundo discurso proferido na Câmara de Pernambuco por Antonio de Siqueira (candidato liberal derrotado nas últimas eleições), era que o Capitão Inácio remetera dois requerimentos da população da Vila de Tacaratu solicitando providências contra os desmandos cometidos durante a eleição. 

Segundo o deputado, o Coronel espancado tinha sob sua proteção seu primo Cypriano Queiroz, um refugiado da polícia, que tratou de montar um grupo  em ataque ao mandante do espancamento.  De acordo com  o inquérito policial apresentado,  o grupo de Cypriano recebia apoio de  Francisco Vicente da Cunha Valpassos,  Antonio Gomes Correia da Cruz, José Jovino Marques e Guilherme Gomes de Araújo, todos desafetos do Cel.  Francisco Cavalcante. Ainda segundo  Siqueira, no Brejinho, o fazendeiro Francisco Pereira apoiava o grupo noticiando  tudo que se passava com o Cel. Cavalcante, que tinha casa em Jatobá, distante 3 km apenas do Brejinho.

Após essa série de acontecimentos, o filho de Cavalcante sofreu uma emboscada, mas conseguiu sair com vida. O Coletor Provincial, José Gomes de Sá Araújo, amigo de Cavalcante, foi assassinado noutra investida. Todas essas ações sob o comando de Cypriano Queiroz. A essas alturas, esperava-se um ataque a Jatobá, onde o Cel. Francisco Cavalcante morava. Temendo por sua vida, o coronel, em outubro, dirige-se à capital da Província para pedir proteção.  

A onda de violência continuava, até que em 4 de dezembro chega a Tacaratu uma força de linha do 2º batalhão de infantaria com 50 homens, a fim de garantir a tranquilidade. Mas nada detinha a sede de vingança do orgulhoso capitão ferido em seus brios. Assim, Inácio traça os planos com o primo e “reúne gente e manda avisar a Cavalcante que estivesse em alerta, pois em dia e hora determinados lhe tomaria a porta”.

Francisco Cavalcante não era rico, mas influente e, pelos relatos da época, era um homem temido: detinha a patente de tenente-coronel, foi delegado de Tacaratu e 1º suplente de juiz municipal (Jornal do Comércio-RJ em sua edição 163 de 13.06.1886) e conseguia emprego na Estrada de Ferro para seus apadrinhados. Tendo empregado, inclusive, um de seus filhos.

Cavalcante parece mesmo ter se mantido envolvido em conflitos políticos e de terras permanentemente. Através de relatos na seção de cartas do Jornal do Recife, percebe-se que ele tanto perseguia como era perseguido.  

Existem histórias de perseguição aos índios, espancamento, proibição de rituais, rapto e defloramento de mulheres e meninas infligidos por Cavalcante  para imprimir o terror que lhe rendia terras. Assim nos apresenta o sociólogo Arruti, através de depoimentos constantes de sua obra  “O reencantamento do mundo: trama histórica e arranjos territoriais Pankararu”, como o que se segue:  

“Então esse Cavalcante chegou aqui se engraçando das índias, batendo nos índios, e o pessoal correram pro Ouricuri. O pessoal mais velho foi embora e adepois os filhos foram voltando, uns voltaram e outros ficaram lá, aquele pessoal mais velho que ficaram envergonhado de tê apanhado…,”  

Assim, ao que parece, não foi difícil reunir todos os desafetos do coronel em torno de uma  vingança, afinal, cada um tinha seus motivos. Tudo leva a crer que os índios também faziam parte do grupo chefiado por Cypriano. Em nota do Jornal do Commercio (RJ) de 17/12/1888 temos o seguinte desfecho do caso: 

“[…] o Sr. Cypriano de Queiroz,capitaneando um grupo de conservadores dissidentes, na madrugada do dia 11, atacou a fazendo do Cel. Francisco Cavalcante perto da cidade de Jatobá.  Houve luta e tiroteio durante 8 horas . 

Morreram, além de Coronel e de seu filho mais velho, o chefe dos assaltantes, Cypriano de Queiroz,  e entre os feridos que são muitos encontram-se uma filha e a mulher de Cavalcante.” 

Em outra nota na mesma página, mesmo indicando esse número como exagerado,  registra-se a ocorrência de 17 mortos no conflito. No entanto, pelo que relata Albuquerque,  o número parece mesmo ser até maior do que esse. Consta que Inácio conseguiu fugir levando consigo um grupo de 13 homens. Cypriano não conseguira escapar, tendo sido apanhado pelos soldados e demais homens de Cavalcante que haviam saído para almoçar. Antes de ser morto teve os olhos furados para que delatasse o paradeiro dos demais.  Não revelou, contudo os desertores foram localizados. Estavam escondidos nas grutas da  cachoeira, esconderijo muito provavelmente sugerido pelos índios do grupo, visto ser cachoeira local extremamente familiar a eles.

Certamente, sentindo que não haveria saída e tendo avistado um parente seu em meio à tropa, Inácio, após a concordância dos demais companheiros, deixou o esconderijo e se entregou, sendo seguido pelos demais. Um a um foram todos trucidados ali mesmo. Exceto dois, Félix Pita e Pedro Zungão, que, desconfiados das promessas de garantia de vida, saltam nas águas da cachoeira e, com bastante sorte, conseguem chegar ao lado baiano do rio.   

Esse violento episódio se desdobrou em retaliações e perseguições entre conservadores e liberais locais, além de muitos debates na Câmara Estadual. Tais acontecimentos mereceram destaque na imprensa por longo período, alimentando ainda mais o ódio existente. 

Como se pode ver, a fama de pleitos eleitorais nada tranquilos na região vem de longe. 

Referências

Pesquisa: Paula Rubens

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