Sobre o concurso
No ensejo de celebrar o 112º aniversário da cidade e os 07 anos de atividades do IGH, durante o mês de junho deste ano promovemos o Concurso ” PETROLÂNDIA E A NOSSA HISTÓRIA” cujo o resultado hoje temos o prazer de divulgar.
Essa ação teve como objetivo principal estimular o registro das memórias do povo de Petrolândia na sua relação com a cidade, cientes de que o registro dessas memórias se faz urgente e necessário.
E assim se faz, não apenas no sentido de preservação , mas, principalmente, no intuito de fortalecer os laços identitários e ajudar a curar as feridas de um povo que , por força da construção da Barragem, sente ainda os efeitos do êxodo forçado.
Agradecimento
Queremos agradecer a todos os que se empenharam em registrar suas memórias, fragmentos de suas histórias particulares que nos ajudam a ir montando a grande corpo de nossa história social.
De comum acordo com os participantes, todos os texto passarão a fazer parte do acervo do IGH na Coleção de Memórias de Petrolândia, do MUSEU DA PESSOA e em breve estarão acessíveis ao público.
O escolhido
O texto premiado, A HISTÓRIA QUE ME CONTARAM, foi escrito por Dimas Rodrigues, nascido em Petrolândia, cujo o pai, Antonio Timbé, dedicou a vida a preparar jovens talentos para o futebol. É sobre esse universo eivado de preconceitos que Dimas faz o seu relato e nos surpreende com desfecho desta história.
Degustem à vontade!
A história que me contaram
Petrolândia, final da década de 40. Uma sociedade local sem clube e sem sócios, preconceituosa, reacionária e pobre. Porém, a cada seis meses organizava um baile para se reunir e apresentar os filhos e novos parentes a sociedade. E, claro, confirmar entre si, e suas famílias, que só eles eram dignos de compor aquele grupo.
A família mais culta de Petrolândia era disparada a família Menezes, eles não se envolviam abertamente em disputas. Eram meio neutros e se mantinham a parte dos problemas locais. Evitavam conflitos, tipo assim: quando convidados para um velório não iam. Quando iam, nem choravam e nem sorriam. Desculpem -me , mas a rima me persegue.
Naquele ano o baile fora organizado no salão de espera da estação da rede ferroviária Federal (GREAT WESTERN). Um cidadão recém chegado em Petrolândia, entendeu que o baile era para todos. Então, se embonecou e foi à festa. Não sem antes passar na residência de um sapateiro ,também recém chegado na cidade, que apesar do pouco tempo já era conhecido pelo requinte em dar nó em gravata.
O baile corria dentro da normalidade, até que o desconhecido adentrou ao evento. Estatura média, loiro, trajava um terno de linho branco, sapatos bicolor, camisa azul clara e gravata listrada com um cheio e bem feito nó Windsor. Em pouco mais de dez minutos o cavalheiro em questão estava cercado por senhoras carolas, senhores arrogantes, rapazes ciumentos e donzelas ofegantes.
O barulho era geral, a bandinha tocava um fox e os casais dançavam um baião, mas quem se aproximou ouviu a conversa: ” Que ousadia! Um estranho pé rapado, um mecânico sujo de graxa e óleo ousar macular um grupo sagrado como o nosso? Falta de respeito com a alta Sociedade de Petrolândia!”. Então , cercaram o cidadão como se fosse um bandido e o convenceram, quer dizer, convidaram quase que coercitivamente a se retirar.
Depois disso, sobrou o arroubo dos senhores, a fofoca das senhoras, o alívio dos rapazes e a tristeza das moçoilas. Para o bem de todos, isso é , menos das donzelas, o homem foi embora. O baile foi reiniciado e a vida continuou, continuou e continuou…
Por fim, esse homem hoje empresta o seu nome e alcunha ao maior monumento da cidade. Ou seja, o estádio municipal de futebol de Petrolândia, ,palco de futebol local: ESTÁDIO MANUEL ANÍZIO DA MOTA , O GALEGÃO.
OBS: The Great Western of Brasil Railway Company Limited foi uma empresa Ferroviária inglesa que construiu e explorou ferrovias no nordeste do Brasil . Em Petrolândia, e talvez em parte do nordeste, usava-se uma corruptela e todo mundo a conhecia como GRETUESTA.
Dimas Rodrigues.
Petrolândia, 30.06.2021.