Uva em pleno sertão

Gustavo Laureano da Silva
MUP.13
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Autor
Museu da Pessoa
PUBLICADO EM
11/02/2009
TAGS
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SINOPSE
Em sua entrevista, Gustavo fala de sua infância e do roçado de seu pai, onde ajudava-o a plantar diversos produtos e criar animais. Em seguida, fala da presença da Cinzano em Petrolândia e em Floresta e comenta acerca de sua criação, que o levou a trabalhar em diversos serviços até chegar na Cinzano, onde se aposentou. Depois, Gustavo fala das brincadeiras de seu tempo de adolescente, da culinária local e das fruta. A partir daqui, descreve minuciosamente o ciclo da uva, da sua plantação até seu processamento e finalização para diversos objetivos: vinho, suco, etc. Sua entrevista termina com ele contando seus sonhos para o Rio São Francisco.
GALERIA
Nenhuma.
HISTÓRIA COMPLETA
As comidas, quem tinha mais um pouco comia sempre… Nessas época não existia nada para se comprar, quase nada, não existia venda, a venda que existia era “difícil” fez vendas. O pessoal comia de manhã rapadura com farinha… Ia para o mato, rapadura, farinha… A carne assada, carne de bode, não existia geladeira, a gente matava um bode, retalhava, que hoje chama carne de sol, né, retalhava e daí ficando, ficava dentro de casa aquela carne, não deixava secar de mais, retalhava, a sala para comer no mato com rapadura, farinha… Fazia o cuscuz de milho. O cuscuz de milho nessa época era feito, era uma mão–de–obra que Ave Maria, a gente tinha que botar o milho hoje de molho, de molho dentro de uma bacia com água, nessa época era a cuia, é uma cabaça, que nem essa aí, aquela ali… A cuia botava de molho o milho e quando era amanhã ia pisar nele no pilão: tum, tum, para fazer a massa para fazer o cuscuz, fazia o cuscuz para comer com rapadura, para comer com o feijão… Torrava o milho para fazer o fubá, fuba com o milho torrado, que eu fubá é a mesma coisa que a massa de hoje, a massa de milho, só porque é torrado, ela é torrada, torra o milho no fogo e depois vai com ele no pilão, aí faz a farinha dele bem feita, fininha para comer a farinha com o fubá, a gente comia com farinha, e com rapadura, tudo era rapadura. Café nessas época era café torrado em casa, a gente torrava ele num caco assim, a gente chamavam de caco, chamavam mesmo: cadê o caco de torrava café? Chamavam mesmo, aí ia pisado, pilão, agora só que era um café sadio, puro mesmo, isso era café mesmo, torrava ele e depois ia com ele eu pilão fazia a mesma massa que faz hoje para fazer o café, mas era feito com rapadura, açúcar não existia, na minha época não e existia o açúcar. No existia açúcar, não existia o óleo, óleo de comida não tinha, toda comida para a gente era sebo de boi ou do bode ou toicinho do porco. Toicinho a gente engordava o porco e guardava para ele criar 4 dedo de toicinho, para tirar o toicinho para poder fazer a gordura para botar numa arroz. Arroz comia muito pouco, porque não havia as condições de comer o arroz, Arroz nessa época que eu me criei, e muitos, arroz era assim quando vinham uma visita para casa, aí é que comprava um quilinho de arroz. Via onde tinha, comprava o arroz para poder fazer. Na semana Santa comia ruas, mas quando não só era feijão, farinha e a carne e de bode, o boi, quem tinha mais um pouco matava boi para vender, para comer em casa, matava mesmo, naquele tempo matavam uma vaca, um boiote para comer, não tinham o bode, matava o bode, quem tinha matava o boi, matava o porco, comia a carne, o toicinho derretia ele todinho e fazia a banho. Óleo não existia… Depois óleo por aqui vê aparecer no ano de 1960, antes não tinha óleo, que esses óleo comida, não tinha não em 1960 apareceu o óleo para a gente comer aí foi que foi melhorando mais, apareceu o óleo ali junto da onde a gente morava, e energia, em alguns lugar, energia, aí já tinha uns, chamavam de lampião à gás, à gás, né, de cozinha, de botijão, ele clareavam, luz forte, a luz de gás de cozinha, muita gente que por dia, já comprava uns bujãozinho pequenos e botava aquela lâmpada… Ela clareia muito, muito forte, muito boa… Aí foi melhorando, melhorando, melhorando. Hoje a gente está numa vida que hoje a gente não vivi bem porque o pessoal não quer porque se não hoje era para todo mundo está feliz, mas a violência muito grande, o pessoal não se controlam, por causa de viver tão bem, mas se fosse no outro tempo, mas hoje a violência toma conta de tudo. Antigamente a gente morava no lá mato, dormia no mato em qualquer lugar, não tinha medo de nada, nada, nada na vida. Hoje você não pode sair daqui para Lagoa Grande de noite porque se o cabra para pegar você por aí é logo para matar, para tomar o que você leva, não pode sair, de dia a mesma fase e a noite… Antigamente não, você viajava de noite, o pessoal tinha até ilusão nessa época, viajava para a casa da, morava na fazenda, para casa de alguns amigo à noite, mas era tudo tranqüilo, de pés, no luar da lua o então no escuro mesmo, de pés, quando a casa era de pés, de pés, quando não, ia de cavalo, jumento ou cavalo como seja, ia para casa de um colega, do irmão, do tio, o que fosse, ia para casa, fazia tudo a noite e a gente ia tranqüilo. Eu andei muito a noite sozinho para vários lugar só, só que sem medo. Que nem lá em Floresta mesmo. Quando morei em Floresta, na época que eu morava na fazenda, todos os pagamento, os pagamento lar eram feito em dinheiro, dinheiro vivo. Aí tinha a semana, de quinze em quinze dias a gente ia pegar dinheiro em Floresta, Belém de São Francisco, Serra Talhada… Vinha do Recife pelo banco que não existia o banco perto. Eu mesmo fui buscar muitas vezes, muita nesse Jipe velho, como eu chamo sozinho, chegava no banco, tirava o dinheiro lá do banco, entregava o envelope de papel, eu trazia esse dinheiro em cima do acolchoado do jipe, eu dirigindo seu dinheiro no saquinho. Todo mundo sabia que eu ia buscar o pagamento do pessoal, nessa época não era muito dinheiro, mas era o pagamento de cento e cinqüenta, cento e quarenta, funcionários, tinha mais pagamento de energia, pagamento de peças, defensivos, era muito dinheiro porque cada tempo, daqui cinco anos 5 real já não vale nada, né, hoje ainda vale um pouquinho, mas daqui 5 anos não vale cinqüenta centavos (RISOS). Nessa época não, nessa época a gente andava com o dinheiro, nunca ninguém me assaltou de jeito nenhum, eu andava de dia, andava de noite sozinho com esse dinheiro da firma, todo mundo sabia, mas tudo tinha consciência de onde eu morava e ia para a cidade, mas mesmo assim era tudo controlado. Depois que a gente mudou-se para a aqui, eu mesmo mudei para aqui em 88, quando foi em 92 quando mudou aqui o pagamento daqui era em dinheiro também, de quinze em quinze dias, era um rapaz que vinha fazer o pagamento, fazia o pagamento, ele morava aqui, morava vizinho ali a mim, nome de Nestor, ele ia pegar o dinheiro em Petrolina e vinha para aqui fazer o pagamento, quando foi em 90 ele ia buscar o dinheiro em Petrolina eu ia daqui para Lagoa Grande para encontrar com ele para poder a gente poder vir nesse trecho aqui, porque a estrada de chão, né, para vir para aqui eu acompanhava ele, a ele numa caminhonete eu acompanhava no jipe junto com outro rapaz acompanhando ele. Quando foi em 90, mês de janeiro, logo ali no trevo quando entra para aqui a gente foi assaltado. Eu lembro o dinheiro que ele trazia, foi cento e quarenta, nessa época era mil réis, cento e quarenta mil réis, mas era o pagamento de e oitenta pessoas e mais algumas peças, fomos roubados todinho. Os cabras pegaram ele, ele vinha mais na frente, pegaram ele, atiraram no carro, arrombaram o carro todo de bala, eu parei atrás um pouco, parei atrás, não tinham o que fazer para sair… Ele correu, quando ele correu eu parei um pouco atrás e aí voltei de ré, voltei para avisar a polícia, que era lá pertinho de Floresta onde, Lagoa Grande, para avisar, mas quando cheguei eu não sabia onde rodava, ninguém… Fomos roubados, o dinheiro que trazia para os funcionários, depois foi que ficou cheque, pagando aqui em cheque, até hoje é cheque, mas hoje a violência é de mais com pessoal, e assim a vida continua…