Quando o Príncipe Luiz Augusto Maria Eudes de Saxe-Coburgo-Gota foi recebido em Várzea Redonda

Último porto do Baixo São Francisco acessível aos barcos vindos de Minas Gerais, em qualquer época do ano, o povoado de Várzea Redonda, distrito de Jatobá de Tacaratu (antigo nome de Petrolândia), no séc IX, recebeu o esposo da princesa Leopoldina, e seu irmão, com todas as honras. Hoje, o povoado encontra-se submerso nas águas do reservatório da barragem de Itaparica.

Na tarde de 04 de agosto de 1868, depois de uma longa viagem de dois meses pelo Rio São Francisco, desde Minas, chegaram ao porto de Várzea Redonda os príncipes Luiz Augusto, esposo da princesa Leopoldina, e seu irmão Felipe.  Tinham por objetivo conhecer as belezas da Cachoeira de Paulo Afonso, provavelmente influenciados pelos relatos do imperador, D. Pedro II, que a visitara em 1859.

Recebidos com todas as honras dispensadas à família real, à disposição deles já estava no porto uma cavalhada arreada, oferecida pela Companhia Militar Baiana. Descansaram dormindo no povoado e, no dia seguinte, às oito da manhã, seguiram   para a cachoeira, onde chegaram  na manhã do dia 06.  

Sem perder tempo, seguiram a pé, com um guia, para observar a cachoeira pela frente. Pisando nos rochedos, em meio a precipícios e abismos, com suas botas de montaria, arriscaram-se descer até à Furna do Morcego. Depois, subiram até Angiquinhos para observar a deslumbrante caída das águas da grande cascata de Paulo Afonso. 

Na volta, almoçaram em companhia do Major Calaça, do Povoado de Água Branca; do Dr. Tamarindo, Juiz de Direito da Comarca de Tacaratu;  do Sr Manoel Francisco Dantas, da Várzea Redonda e de outros. Em seguida, partiram para o Porto de Piranhas, chegando no dia seguinte, pela manhã, para embarcar no vapor São Francisco, com destino a Penedo. 

Segundo a imprensa da época, “desprendimento, coragem e elevado espírito humanitário foram as impressões deixadas pelos dois príncipes, que durante a viagem não se furtaram a distribuir ajuda aos necessitados que encontravam pelo caminho”.

Pesquisa: Paula Rubens

Fonte: JORNAL DE RECIFE (PE), edição 206, de 05.09.1868

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Igreja semi submersa de Petrolândia

A presença dela em meio ao lago do reservatório sinaliza um lugar que foi destruído e que às pessoas que ali habitavam foi imposta a necessidade de refazer todo um modus vivendi.

Essa tem história

Em 1942, Petrolândia é contemplada, através do decreto lei nº 4.505, com a criação do Núcleo Colonial Agro-Industrial São Francisco, dentro do processo de instalação de colônias agrícolas nos diversos estados do país programado pelo governo Vargas. Este seria o primeiro assentamento realizado pelo Estado, em um perímetro irrigado, destinado à colonização de agricultores sem terra no Vale do Submédio São Francisco.

O Núcleo, a princípio, era formado por 100 lotes irrigados, de quatro hectares, contendo uma casa para abrigar a família de um trabalhador e outra para colono, que recebia semente, mudas e aves, além de assistência técnica e infraestrutura capaz de absorver a produção. O colono se obrigava a pagar o lote em 13 anos, com três de carência.

Compondo esse Núcleo funcionava fábrica de laticínios, charqueada, aviário com capacidade de criação de 400 mil aves, cujos os ovos eram comercializados nos grandes centros, fábrica de salsicha e linguiça, Usina beneficiadora de arroz e milho, Fabrica de doces e extrato de tomate, oficina mecânica, marcenaria, um Hospital Regional, clube social e escola, entre outros.

Esse projeto serviu também como piloto para as ações de reorganização do ensino rural do Brasil, visando o incremento na produção agrícola, estimulada pela Comissão Brasileiro-Americana de Produção de Gêneros Alimentícios, em convênio firmado durante o ministério de Apolônio Sales na pasta da agricultura do governo de Getúlio Vargas.

Em paralelo, em 1945, é autorizada a criação da Companhia Hidrelétrica do Rio São Francisco (CHESF), abrindo crédito para a organização da companhia e lhe outorgando concessão para aproveitamento da energia hidráulica do rio São Francisco, no trecho compreendido entre Juazeiro (BA) e Piranhas (AL).

Foi nesse contexto que a Igreja do Sagrado Coração de Jesus começou a ser construída. Projetada para um futuro de desenvolvimento, assim como foi no passado  com a Estrada de Ferro, o prédio assume contornos de Catedral e logo um pequeno centro comercial de forma em seu entorno.

Ocorre que, após o fim da era Vargas, a administração do Núcleo entra em crise por falta de continuidade dos programas ,em virtude das mudanças de governo e consequentes mudanças do órgão gestor responsável. Iniciada sob o comando da Comissão do Vale, a administração é transferida para a Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste – SUVALE, depois SUDENE e por fim CODEVASF.

 Obviamente essa descontinuidade também se refletiu na construção da igreja. Cessam os recursos públicos. As esposas dos colonos, principalmente, passam a promover ações de arrecadação de recursos a fim de tocar a obra. Rifas, festas e leilões são organizados a fim de arrecadar recursos. Desta forma conseguiram que o interior do templo ficasse em condições de realizar celebrações e o povo não precisasse mais se deslocar para a cidade a fim de realizar casamentos, batizados e outras atividades religiosas.

Mas o templo era grande, um projeto nada modesto. Sem a ajuda de recursos públicos, como no início, as obras se arrastaram lentamente até que, em 1970, a administração do Núcleo é avisada que nenhuma obra poderia ser continuada, em virtude da construção da Barragem de Itaparica. Foi como o anúncio de uma catástrofe.

Até 1970 as usinas hidrelétricas (UHES) Paulo Afonso I e II já estavam concluídas. De acordo com o estudo de aproveitamento do rio, além de Paulo Afonso ser um ponto estratégico devido à presença de quedas naturais de água, era preciso construir um reservatório acima (a montante) a fim de viabilizar ainda mais os setores produtivos ligados à industrialização. Foi então que rapidamente foi executado o projeto da barragem de Sobradinho que desalojou cerca de 70 mil pessoas com indenizações irrisórias através de um desastroso reassentamento mal planejado e sem a participação da população. Ciente das consequências sofridas pelo povo de Sobradinho, a população do submédio São Francisco começa a organizar-se na busca por seus direitos à terra. Disto, então, resultou a pressa da CHESF em construir Itaparica – coincidindo com o período do “milagre econômico”.

Os sindicatos foram trincheiras erguidas ou reerguidas para os primeiros momentos de organização. Garantir esses espaços de representação e institucionalidade era, a antes de tudo, garantir a existência das condições de luta. Não podemos perder de vista que estávamos sob os auspícios do AI-5 e que a ditadura, apesar de estar tendo problemas com o crash do “milagre”, permanecia todo-poderosa em termos repressivos.

A tarefa de fazer reuniões e construir sindicatos não correu como água. Além das homilias dos padres do lado da Bahia, a religiosa Josefina, sediada em Petrolândia, lançou mão de táticas ligadas ao cotidiano para abrir diálogos com o povo. Segundo ela mesma, uma das maneiras de se reunir fora dos sindicatos, pois esses eram vigiados e proibidos de fazer reuniões, era usar de certas manifestações religiosas.

A luta política e o verbo organizar misturavam-se às manifestações de fé que eram parte importante daquela cultura. As posições de Josefina com certo apoio da CPT e da Regional Nordeste II da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) davam autoridade para esses sujeitos se manterem em contado com sua pratica religiosa.

“A manifestação de fé que eu aproveitei muito delas mesmo era as novenas tinha novena em tudo que é comunidade… tinha um santo tinha novena em todas as comunidades e eu participava de todas porque não havia como ou o sindicato convidava as pessoas num momento em que o sindicato ainda não assumia não tinha mudado a diretoria o sindicato não assumia eles então ia comigo e ficava dentro do carro com medo” ( Josefina)

 Para Josefina, as novenas eram a princípio um lugar para pregar o Evangelho, mas com o passar do tempo as pessoas já associavam sua novena às questões políticas e organizativas.

Neste contexto, aqui temos um símbolo. As ruínas da Igreja simbolizam a resistência da memória de um município desterritorializado e reterritorializado, para além da destruição dos laços humanos ali tecidos, sendo a única construção remanescente do período.

Junto à igreja, sob aquele espelho d´água, há também, memórias de infância, de trabalho, reuniões , debates, embates e de outros modos de ser. Há, afogadas ali, salas onde se ouviram histórias, cozinhas que ajuntaram famílias. Sob aquele lago, marcado pela presença da Igreja do Sagrado Coração de Jesus onde foram batizadas gerações, jazem lugares de primeiros beijos, intrigas, começos e fins de amores. A presença dela em meio ao lago do reservatório sinaliza um lugar que foi destruído e que às pessoas que ali habitavam foi imposta a necessidade de refazer todo um modus vivendi, como antes vinculado ao rio, mas hoje relacionado às marcas deixadas em todos os atingidos por barragens mundo à fora.

Por isso é que, além da beleza da paisagem rara, tão importante para o desenvolvimento turístico de Pernambuco e do Brasil, chegando a figurar na internet entre as nove magníficas cidades submersas do mundo https://www.viajali.com.br/cidades-submersas-no-mundo/, o conjunto da paisagem que tem a Igreja como principal referência, perfeitamente enquadra-se na definição adotada pela UNESCO no que se refere à paisagem cultural “ilustrativas da evolução da sociedade e dos assentamentos humanos ao longo do tempo, sob a influência de condicionantes e/ou oportunidades físicas apresentadas pelo seu ambiente natural, e de sucessivas forças sociais, econômicas e culturais, tanto externas quanto internas”. . . As ruínas da Igreja resistindo ao afogamento é memória de um modo de vida, história de luta, fé e resistência de um povo e diz muito sobre a história de desenvolvimento do Nordeste.

Assim, através do processo administrativo Secult nº 015/2020,de 11.01.2021, “em razão de sua importância histórica e simbólica”, a Fudarpe deferiu a proposta de tombamento apresentado pelo  do IGH de Petrolândia. Hoje a Igreja do sagrado Coração de Jesus encontra-se sob mesmo regime de preservação dos bens tombados de acordo com a legislação estadual, Lei nº 7.970/1979 e Decreto nº 6.239/1980.

Pesquisa:

Paula Rubens e Milena Gomes ( IGH – Petrolãndia )  

João Vitor ( MOVIMENTO RIO DE LUTAS – Paulo Afonso – BA)

Nota de Esclarecimento

“Não há mal que não traga um bem”. A exemplo do evento que deflagou o processo de tombamento da Igreja semi submersa, o ulitmo evento pode servir de marco para uma nova atitude de cuidado. Afinal, “quem sabe faz a hora, não espera ocontecer”.

O IGH- Instituto Geográfico e Histórico de Petrolândia vem a público esclarecer seu posicionamento com referência ao evento promovido no ultimo dia 06, de certa forma já demonstrado através de nossa sócia Milena Gomes, em matéria publicada no Blog Gota d’Água.

Tendo como um de seus objetivos a preservação do patrimônio histórico e cultural do município em benefício das gerações futuras, o Instituto não tem como assistir inerte às cenas de agressão às ruinas da Igreja do Sagrado Coração de Jesus, sejam elas praticadas por DJ famosos ou por filhos terra. Portanto, é imperioso para nós tomarmos todas as providências cabíveis, sempre que necessárias, para cobrar do poder público a responsabilidade que lhe compete.

Mas nem tudo está ao nosso alcance e nem da gestão municipal. Para fazer valer a lei que hoje protege a Igreja, é imprescindível o envolvimento da Fundarpe, Ministério Público, Prefeitura e da população em geral, principalmente os empresários diretamente beneficiados pelo fluxo de turistas na cidade e os promotores de eventos.

Não somos contra o turismo, muito pelo contrário, nem contra a diversão de quem quer que seja. Mas exigimos respeito e cuidado com o que é nosso.  A Adventure Divers, um grupo de amantes do mergulho do Recife, no último 07 de setembro trouxe mais de 60 pessoas para usufruir das belezas de nossa paisagem e do nosso melhor cartão postal. Conscientes que são, aproveitaram o passeio sem que um tijolo das ruínas fosse tocado. Este é o turismo que defendemos.

 O reconhecimento pelo Estado de Pernambuco da importância da igreja semi submersa e seu valor paisagístico, histórico e cultural, acatando o nosso pedido de tombamento, é uma vitória de todos os petrolandenses. Não podemos abrir mão dessa conquista por medo de agir na hora certa. Não queremos julgar ninguém, mas exigimos que cada um assuma a responsabilidade por seus atos, propositais ou não, e se eduque, esta é a finalidade da lei.

Por outro lado, o fato de a Igreja estar legalmente protegida não impedirá sua destruição, se não nos unirmos em busca de soluções que visem sua proteção real. Para isso vamos ´precisar de todo mundo, cada petrolandense é parte da solução. Inclusive os jovens empresários locais e seus jet skis.

Assim, conclamamos pela urgente formação   do Conselho Municipal de Cultura, espaço democrático de participação e aprendizagem, como facilitador do diálogo entre a sociedade, o poder público e os demais Conselhos no encaminhamento das questões de interesse coletivo, especialmente no que se refere ao turismo e a educação patrimonial.

Instituto Geográfico e Histórico de Petrolândia – IGH

Paula Francinete Rubens de Menezes

Presidente

A César o que é de César

Uma cidade capaz de contar sua história começa pela nomeação de seus espaços públicos.

O IGH de Petrolândia vem a público parabenizar a Câmara de Vereadores pela aprovação dos projetos de lei dos vereadores Joilton e Fabrício Cavalcante, respectivamente responsáveis pela nomeação de uma escola a ser construída na quadra 5 e pela renomeação da Biblioteca Municipal Barão de Mauá. Ambas em homenagem ao mestre Gilberto de Menezes.

Há muito o nome de um prédio público da cidade não guardava tamanha coerência entre homenageado e a atividade a qual se destina. Afinal, ninguém melhor do que um professor, com vida dedicada à educação e à história, para dar nome a uma biblioteca e uma escola da cidade a qual dedicou sua vida.

Por outro lado, é revoltante ver espaços públicos reverenciando pessoas, apesar de respeitáveis e queridas, sem nenhuma representatividade comunitária ou serviço prestado, a título de agradar famílias de poderosos ou detentoras de grande número de votos. 

Não se discute a legitimidade de se desejar ter um ente querido publicamente reconhecido, mas é imprescindível haver vinculação entre a finalidade do espaço público e o condecorado. Caso contrário o tributo, além de surtir efeito inverso, transforma-se em afronta aos que, por mérito, deveriam receber tal condecoração, e ao povo da cidade que vê sua história sendo esquecida por falta de visibilidade

É lamentável, mas isso tem acontecido em Petrolândia. Onde estão as homenagens ao Dr. Ely Jaldes, responsável pela saúde e educação sanitária de várias gerações de petrolandenses?  Onde está o reconhecimento à memória de Eraldo, do Polo Sindical, com vida dedicada à luta dos trabalhadores que resultou na Petrolândia que hoje temos?

Mas, ainda há tempo. É animador ver a Câmara reverenciar o nome do Professor Gilberto. No entanto, faz-se urgente e necessário normatizar critérios que norteiem os legisladores quanto às indicações dos nomes de ruas, prédios e praças públicas, para que se dê “a César o que é de César ” e assim tenhamos uma cidade capaz de contar sua própria história.

As ruas das nova Petrolândia receberam o nome de matriarcas e patricas das famílias originárias da antiga cidade. Faz sentido e é louvável que assim tenha sido. Uma justa homenagem aos que não tiveram a chance de viver na cidade para onde seus filhos tiveram que seguir. Foi a forma encontrada para se deixar registrado, de público, as raizes identitárias desse povo.

Mas, isso justifica continuar a nomear as ruas e espaços públicos com nomes de falecidos, de cada familia, eternamente? Que história a cidade estará contando apartir de agora?

São questões a serem debatidas e definidas de modo a padronizar esse tipo de homenagem. O que não se pode é permitir que cada um decida , segundo os seus critérios.

Paula Francinete Rubens de Menezes

Presidente do IGH de Petrolândia.

Festa do Padroeiro

Procissão, tradição centenária

O ano era 1884 quando em missão por várias comunidades da diocese os freis capuchinhos , apoiados pela direção da Estrada de Ferro, celebraram a colocação da pedra fundamental na construção da primeira igreja de Jatobá de Tacaratu .  

Segundo os documentos da igreja, primeiro foram construídas a capela-mor, duas sacristias e uma murada, na qual se improvisou uma latada onde as celebrações aconteciam.  Uma estampa de São Francisco, pintada em tela à óleo,  representava o padroeiro.

Com o avanço da construção,  em substituição ao quadro, o povo se animou a providenciar uma imagem de pedra, prontamente encomendada na França por Frei Domingos. 

No início de outubro de 1886, o trem trazendo  a imagem do padroeiro fez parada no Brejinho, onde uma eufórica multidão  ansiosa esperava e com vivas, cantos e muitos fogos festejou a chegada de tão valiosa obra. Um  primoroso andor havia sido providenciado e o povo seguindo a pé em  procissão, cantando alegremente e rezando, conduziu a imagem até  a capela de Jatobá, colocando-a em seu lugar de honra. Esta celebração festiva marcou o início das festas de São Francisco na cidade.

Nove anos depois o povo do Brejinho de Fora oficializou, em cartório, a doação do terreno  da igreja . Em 1968 a Paróquia de Petrolândia é desmenbrada de Tacaratu e Padre Cristiano nomeado primero pároco.

A antiga imagem de São Francisco trazida  da França, depois de restaurada por Dona Marisa Ovídio,

foi entronizada numa redoma na fachada  frontal da matriz da nova cidade e lá permanece como a acolher os fiéis.  Somente durante o período das novenas é transferida para um andor para assumir lugar de honra nas celebrações e ser levada nas procissões, em especial no encerramento da festa do padroeiro, numa tradição de 137 anos.

Nas ondas do rádio em Petrolândia

Breve histórico sobre a estreia de emissora de rádio em Petrolândia., ilustrado em foto gentilmente cedida por Osmar Salles de Oliveira.

A radiodifusão chegou ao Brasil em 1922 e tinha como objetivo inicial divulgar eventos educativos e culturais. Popularizou-se na década de 40,“época de ouro do rádio”, a partir da radionovela e de uma programação recheada de música com programas ao vivo. No radiojornalismo surgiu o Repórter Esso, com notícias do Brasil e do mundo,  patrocinado pela companhia norte americana de combustíveis, que lhe emprestou o nome.

Com nome oficial de Rádio Educadora, no início dos anos 60, Petrolândia ganha sua primeira rádio. Instalada no antigo prédio das Escolas Reunidas 10 de Novembro, ficou popularmente conhecida como “Rádio de Montenegro”.

Antônio Montenegro, natural do Recife, veio a Petrolândia de passagem, em comitiva de políticos pernambucanos na campanha eleitoral de João Goulart. Acabou se encantando com uma moça da cidade, que mais tarde viria a ser sua esposa, o que o fez mudar-se de vez  da capital para o interior. De família tradicional e cheio de  amigos influentes na capital,  Montenegro conseguiu concessão e instalou a rádio onde ele e sua esposa, Maria Emília, atuavam conjuntamente na condução da  programação.

Mantida apenas com a receita proveniente de anúncios pagos pelo minguado comércio local, oferecimento de músicas encomendadas por moças e rapazes apaixonados e um programa dominical de auditório no Grêmio Lítero Recreativo, a rádio não conseguiu se manter em atividade por muito tempo. Em menos de um ano saiu do ar. Apesar disso, marcou época e serviu de estímulo a outras tantas experiências radiofônicas da cidade.

A Rádio Progresso é um exemplo disso. Montada , por volta de 1967,  pelo tabelião Silvio Rodrigues, cujo cartório funcionava no mesmo prédio da antiga Radio Educadora,  a rádio  surgiu  a partir de um transistor de fabricação caseira construído pelo inventivo mecânico Doda. De curto alcance, o sinal cobria apenas a área urbana.  A rádio funcionava no centro da cidade,  num beco por trás da venda do Sr. Pedro Soares,  numa sala minúscula onde mal cabiam duas pessoas.

Tinha como encarregado  o estudante Gilberto Alcântara (Betão), responsável pela programação que fazia chegar em Petrolândia os sucessos da Jovem Guarda, numa época em que a cidade ainda nem sonhava com sinal de TV. Como voluntários, revessavam-se ao microfone os amigos Marcos de Toinha Bozó (conhecido como o Tremendão, pois usava figurino inspirado em Erasmo Carlos), Renato de João de Boa, Claudio Costa e outros jovens estudantes que se divertiam levando ao ar programas de música popular, reclames, oferecimento de música e brincadeiras do tipo “Qual é a música?”.

Era um maravilhoso entretenimento para a povo de Petrolândia nos monótonos dias sem novidades,  tão comum nas pequenas cidades interioranas.

Pesquisa : Paula Rubens

Ginásio Municipal de Petrolândia

Relatos sobre o Ginásio Municipal de Petrolândia extraídos do livro “De Jatobá a Petrolânida – Três nomes, uma cidade, um povo” de Gilberto de Menezes.

Relatos de Gilberto de Menezes

Do livro De Jatobá a Petrolândia: três nomes, uma cidade, um povo (2014) de Gilberto de Menezes, às páginas 143 , 145 e 151, extraímos o seguinte relato acerca do Ginásio Municipal de Petrolândia.

O prefeito Amaro José da Silva resolveu dotar o município de um curso ginasial onde os que haviam concluído o curso primário pudessem continuar os estudos, deparando-se de imediato com três problemas: falta de prédio capaz de abrigar o curso atendendo às exigências do MEC foi o primeiro; e, segundo lugar a falta de recursos da Prefeitura para assumir ps gastos e em último lugar a falta de professores habilitados. Mas nada é impossível quando há boa vontade. Logo surgiram as soluções:

a) enquanto não fosse possível a construção de um prédio próprio seriam ocupadas as salas inativas do Grupo Escolar Delmiro Gouveia, que ele mesmo havia inaugurado, nos turnos vespertino e noturno;

b) os alunos pagariam uma mensalidade, devendo a Prefeitura conceder bolsas de estudo aos alunos que não tivessem condições de fazê-los;

c) seriam contratadas as professoras do Grupo Escolar Delmiro Gouveia para as matérias em que se julgassem habilitadas. Para as matérias restantes seriam convidados profissionais liberais, funcionários públicos etc. que fossem capazes de ministrá-las.

Para dirigir o recém-criado estabelecimento o prefeito convidou o Padre Pedro Gabriel de Vasconcelos, Pároco da Paróquia de Nossa Senhora da Saúde, que aceitou o cargo mas chamou a atenção para sua inexperiência em organização e administração de estabelecimentos escolares. Tudo, porém foi resolvido com a atuação decidida do Dr. JOSÉ MEDEIROS DE SOUZA, administrador do Núcleo da Barreira que aceitou o cargo de Inspetor de Ensino e pôs à disposição do ginásio Maria Otília Netta Costa, então Orientadora Educacional da Comissão do Vale do São Francisco que cursava Filosofia na Universidade Federal de Pernambuco.”

Em 1964,  José Araújo da Silva toma posse como prefeito e dá continuidade à construção do prédio do ginásio, ampliando suas instalações. Criou o Colégio Comercial São Francisco e o Colégio Normal Municipal de Petrolândia que passam a funcionar no mesmo prédio, depois de terem utilizado as instalações do antigo escritório do DNOCS  (Curso de Contabilidade) por breve período.

Em 1977, assume a prefeitura José Dantas de Lima e implanta  a gratuidade do ensino municipal. Em 03/06/1982, ainda em sua gestão, pela portaria 42/56, transfere ao Estado o Ginásio e os demais Colégios  com o nome de Escola de Jatobá – Ensino de 1º e 2º Graus.

Registro de fundação

Seguem abaixo fotografias do registro de fundação do ginásio:

Pesquisa: Paula Rubens

Disputa entre índios e posseiros nas terras de Jatobá

A reparação de uma grande injustiça: artigo escrito por Hildebrando Gomes de Menezes, publicado no Jornal do Comercio de 14/03/1951.

Resgatamos artigo de Hildebrando Gomes de Menezes, publicado no Jornal do Commercio em 14/03/1951, a fim de levar a seu público o conhecimento acerca do debate travado à época sobre as tratativas do enfrentamento entre índios e posseiros nas terras de Jatobá.

Pesquisa: Paula Rubens

Violência e morte: a hecatombe de Jatobá

A chacina resultante dos conflitos políticos na Tacaratu de 1885, é um retrato da acirrada disputa eleitoral vivida em Pernambuco no final do século IX.

No Brasil Império, o Partido Conservador manteve-se no poder na Província de Pernambuco de 1885 a abril de 1888, desbancando o Partido Liberal. 

Em outubro de 1885 , assumiu o governo de  Pernambuco o conservador  José Fernandes da Costa Júnior,  que tinha em Jatobá o Cel. Francisco Cavalcante como agente eleitoral.  O novo governador destitui o delegado que atuava em Tacaratu há três anos e nomeia para o cargo um sobrinho de Cavalcante.   

O novo delegado, temido na cidade pelo cometimento de inúmeros crimes, esteve foragido e retornava com sede de vingança, segundo texto abaixo extraído do Jornal do Comércio em sua edição 63 de 04/03/1886 (reproduzindo matéria do jornal Província de 20/02/1886):

“ (…) Quando Cavalcante com numeroso séquito armado fez a sua “entrada triunfal” na Vila, esta já estava em grande parte despovoada: nas poucas casas habitadas houve um… Fecha! Fecha!..de terror!”

“E começou então, quase sem interrupção de um dia, uma série de violências e atentados de toda a ordem, nas ruas, nas feiras, em pleno dia e sob as vistas das próprias autoridades judiciárias, impassíveis, sob pena de serem elas mesmas igualmente vítimas”.

Jornal do Comércio-RJ, número 63 de 04/03/1886

Consta que famílias inteiras abandonaram a vila e que um júri foi convocado poucos dias depois em 15/10/1885. O novo delegado e seus comparsas saíram todos incólumes de três processos julgados no mesmo dia naquele tribunal do juri, sendo ablsolvidos um total de 22 pessoas (Jornal do Commercio RJ de 28.04.1886). Segundo o jornal, tais fatos corroboravam para a acusação de que o Governador da Província não dava ouvidos às queixas que lhe chegavam, numa clara preparação de terreno para as eleições que se sucederiam em nível local.

De fato, tudo parece concorrer para essa conclusão, já que na véspera da eleição de 15 de janeiro, consta que Cavalcante e sua turma proporcionaram uma verdadeira noite de terror ao povo de Tacaratu, sitiando a cidade, invadindo residências e roubando títulos de eleitor.

“ Um grupo desses sequazes de Cavalcante assaltaram alta noite as casas habitadas por liberais, arrombando portas, batendo noutras, em algazarra , insultos e provocações insólitas; a própria casa de juiz de direito onde estava hospedado o candidato liberal , não foi poupada, e aí só o arrombamento da porta deixou de ser praticado”.      

O Jornal do Recife de 23/01/1886  reproduz o seguinte excerto de publicação de 22/01/1986 do Jornal A Província (vinculado ao Partido Liberal):

“ A comarca de Tacaratu está fora da lei. São inúmeros os espancamentos e outras violências que nela se tem dado  e estão impunes. No dia da eleição geral postou-se gente armada nas estradas, para impedir que votassem os eleitores liberais”.  

Ainda na referida edição citada no Jornal do Commercio-RJ em seu número 63 de 04/03/1886, temos que:  

“ Acaba de ser barbaramente espancado  em plena rua de Jatobá, o Capitão Ignácio Gomes de Carvalho, suplente do juiz municipal e membro da mesa eleitoral no dia 15 de janeiro, pertence ao partido liberal e é geralmente estimado”. 

A motivação para esse espancamento, segundo discurso proferido na Câmara de Pernambuco por Antonio de Siqueira (candidato liberal derrotado nas últimas eleições), era que o Capitão Inácio remetera dois requerimentos da população da Vila de Tacaratu solicitando providências contra os desmandos cometidos durante a eleição. 

Segundo o deputado, o Coronel espancado tinha sob sua proteção seu primo Cypriano Queiroz, um refugiado da polícia, que tratou de montar um grupo  em ataque ao mandante do espancamento.  De acordo com  o inquérito policial apresentado,  o grupo de Cypriano recebia apoio de  Francisco Vicente da Cunha Valpassos,  Antonio Gomes Correia da Cruz, José Jovino Marques e Guilherme Gomes de Araújo, todos desafetos do Cel.  Francisco Cavalcante. Ainda segundo  Siqueira, no Brejinho, o fazendeiro Francisco Pereira apoiava o grupo noticiando  tudo que se passava com o Cel. Cavalcante, que tinha casa em Jatobá, distante 3 km apenas do Brejinho.

Após essa série de acontecimentos, o filho de Cavalcante sofreu uma emboscada, mas conseguiu sair com vida. O Coletor Provincial, José Gomes de Sá Araújo, amigo de Cavalcante, foi assassinado noutra investida. Todas essas ações sob o comando de Cypriano Queiroz. A essas alturas, esperava-se um ataque a Jatobá, onde o Cel. Francisco Cavalcante morava. Temendo por sua vida, o coronel, em outubro, dirige-se à capital da Província para pedir proteção.  

A onda de violência continuava, até que em 4 de dezembro chega a Tacaratu uma força de linha do 2º batalhão de infantaria com 50 homens, a fim de garantir a tranquilidade. Mas nada detinha a sede de vingança do orgulhoso capitão ferido em seus brios. Assim, Inácio traça os planos com o primo e “reúne gente e manda avisar a Cavalcante que estivesse em alerta, pois em dia e hora determinados lhe tomaria a porta”.

Francisco Cavalcante não era rico, mas influente e, pelos relatos da época, era um homem temido: detinha a patente de tenente-coronel, foi delegado de Tacaratu e 1º suplente de juiz municipal (Jornal do Comércio-RJ em sua edição 163 de 13.06.1886) e conseguia emprego na Estrada de Ferro para seus apadrinhados. Tendo empregado, inclusive, um de seus filhos.

Cavalcante parece mesmo ter se mantido envolvido em conflitos políticos e de terras permanentemente. Através de relatos na seção de cartas do Jornal do Recife, percebe-se que ele tanto perseguia como era perseguido.  

Existem histórias de perseguição aos índios, espancamento, proibição de rituais, rapto e defloramento de mulheres e meninas infligidos por Cavalcante  para imprimir o terror que lhe rendia terras. Assim nos apresenta o sociólogo Arruti, através de depoimentos constantes de sua obra  “O reencantamento do mundo: trama histórica e arranjos territoriais Pankararu”, como o que se segue:  

“Então esse Cavalcante chegou aqui se engraçando das índias, batendo nos índios, e o pessoal correram pro Ouricuri. O pessoal mais velho foi embora e adepois os filhos foram voltando, uns voltaram e outros ficaram lá, aquele pessoal mais velho que ficaram envergonhado de tê apanhado…,”  

Assim, ao que parece, não foi difícil reunir todos os desafetos do coronel em torno de uma  vingança, afinal, cada um tinha seus motivos. Tudo leva a crer que os índios também faziam parte do grupo chefiado por Cypriano. Em nota do Jornal do Commercio (RJ) de 17/12/1888 temos o seguinte desfecho do caso: 

“[…] o Sr. Cypriano de Queiroz,capitaneando um grupo de conservadores dissidentes, na madrugada do dia 11, atacou a fazendo do Cel. Francisco Cavalcante perto da cidade de Jatobá.  Houve luta e tiroteio durante 8 horas . 

Morreram, além de Coronel e de seu filho mais velho, o chefe dos assaltantes, Cypriano de Queiroz,  e entre os feridos que são muitos encontram-se uma filha e a mulher de Cavalcante.” 

Em outra nota na mesma página, mesmo indicando esse número como exagerado,  registra-se a ocorrência de 17 mortos no conflito. No entanto, pelo que relata Albuquerque,  o número parece mesmo ser até maior do que esse. Consta que Inácio conseguiu fugir levando consigo um grupo de 13 homens. Cypriano não conseguira escapar, tendo sido apanhado pelos soldados e demais homens de Cavalcante que haviam saído para almoçar. Antes de ser morto teve os olhos furados para que delatasse o paradeiro dos demais.  Não revelou, contudo os desertores foram localizados. Estavam escondidos nas grutas da  cachoeira, esconderijo muito provavelmente sugerido pelos índios do grupo, visto ser cachoeira local extremamente familiar a eles.

Certamente, sentindo que não haveria saída e tendo avistado um parente seu em meio à tropa, Inácio, após a concordância dos demais companheiros, deixou o esconderijo e se entregou, sendo seguido pelos demais. Um a um foram todos trucidados ali mesmo. Exceto dois, Félix Pita e Pedro Zungão, que, desconfiados das promessas de garantia de vida, saltam nas águas da cachoeira e, com bastante sorte, conseguem chegar ao lado baiano do rio.   

Esse violento episódio se desdobrou em retaliações e perseguições entre conservadores e liberais locais, além de muitos debates na Câmara Estadual. Tais acontecimentos mereceram destaque na imprensa por longo período, alimentando ainda mais o ódio existente. 

Como se pode ver, a fama de pleitos eleitorais nada tranquilos na região vem de longe. 

Referências

Pesquisa: Paula Rubens

“Poema Pesquisa” – Vídeo de Kerollayne no Museu da Pessoa

O poema de Kerollyne Gominho traduz os sentimentos vividos ,enquanto pesquisadora, em busca de entender a extensão dos danos causados pela desterritorialização forçada da população de sua terra natal, atingida pela barragem de Itaparica.

Kerollayne Cavalcante Gominho, nasceu em Petrolândia-PE, no ano de 1994, sua Trisavó Maria Cavalcante Nunes, foi a primeira professora do povoado da Várzea Redonda e uma das primeiras do Município de Petrolândia. É filha de Amilson e Claudiane, Feirantes, neta de Toinha e Mário Gominho, também de Preta e Sancho da feira. Irmã de Amilson Filho. Morou na cidade natal até seus 19 anos, em 2014 foi estudar em Garanhuns-PE, onde se formou em 2018 pela Universidade de Pernambuco, como Bacharela em Psicologia.

Seu vídeo foi premiado no Concurso “Petrolândia e a Nossa História” , lançado em celebração ao 112 º aniversário da cidade e 7º ano de atividade do IGH, no presente mês, e passa a compor a Coleção “Memórias de Petrolândia” no Museu da Pessoa.

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