03.12. 1986 – Terceiro dia de ocupação – Nenhum sinal de negociação. Dos políticos representantes do município, a oferta ( não aceita) de ambulância depois de, na surdina, tentarem dissuadir correligionários a não participarem “daquela loucura.”

Percebendo que a estratégia inicial não estava surtindo o efeito esperado, depois de várias assembleias realizadas , os trabalhadores decidiram partir para o plano B. Ao sinal combinado, avisado na base do boca a boca , a multidão de homens e mulheres carregando nos braços as pedras da própria barragem, de repente obstruiu a passagem dos caminhões. Deste modo, antes mesmo da polícia entender direito o que estava acontecendo, conseguiram parar as obras no lado pernambucano.

Rapidamente, a Chesf, que até então se mantinha calada, mandou chamar as lideranças para uma conversa. Resolveram aceitar, mas antes exigiam a retirada da força policial. Em troca, garantem manter respeito ao patrimônio da Companhia, desde que também fossem respeitados. Eram todos pessoas da roça, gente simples e séria, acostumados a considerar a palavra dada mais que qualquer documento assinado. A direção da Chesf sabia disso e precisava sinalizar em direção ao entendimento. A polícia, que embora procurasse intimidar não chegou a fazer uso da força, recebeu ordem para se retirar.

Música e poesia animavam os acampados e ajudavam a distender a tensão. A primeira conversa estava marcada. Qual seria a postura da Chesf? O governo federal enviará representante ou reprimirá violentamente o movimento? Esta pergunta rondava a cabeça daqueles corajosos homens e mulheres, dispostos a tudo. Afinal, apesar da recente posse de um civil na presidência, a sombra demoníaca da ditadura repressiva ainda rondava o país. Em sua defesa , os trabalhadores dispunham apenas da lenha do fogão e das pedras da barragem. O dia seguinte prometia.
Por Paula Francinete Rubens de Menezes, baseado em entrevista de Vicente Coelho concedida à autora em janeiro de 2018.